segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os primeiros japoneses no Brasil



Imigração japonesa ao Brasil

Antes do Kasato Maru


Todos consideram a chegada do Kasato Maru como o marco zero da história da imigração. Entretanto, antes dos imigrantes do Kasato, alguns japoneses já estavam ou estiveram no Brasil.

1793 – Os náufragos do Wakimya Maru

Em 1793, 4 sobreviventes de um naufrágio e mais um marinheiro japonês foram os primeiros a pisarem no Brasil, em Florianópolis, Sc (veja postagem).

1867 – Tripulantes do Kaiyou Maru

O shogun japonês Tokugawa encomenda em 1873 um navio à Holanda, que é concluído em 1867. O navio, batizado de Kaiyou Maru, ruma ao Japão em sua viagem inaugural, e em 21 de janeiro de 1867 atraca no Rio de Janeiro, onde permaneceu por 11 dias, provavelmente para pequenos reparos e reabastecimentos. Neste intervalo, desembarcaram na cidade Kamajiro Enemoto, Takeaki Enemoto, Kakijiro Uchida, Tarozaemon Sawa, Shinpei Taguchi, além de onze outros japoneses.

Kayou Maru – from wikipedia

1870 – Jurouzaemon Maeda

Tripulante de um navio inglês que estava atracado em Salvador (Ba) em 1870, Maeda cometeu haraquiri (suicídio) nesta ocasião. 

1884 – Massayo Neguishi


Acredita-se que o primeiro japonês que visitou o Brasil, em caráter oficial, foi um deputado chamado Massayo Neguishi em 1884, como enviado do Ministério do Exterior do Japão. Ele percorreu várias localidades nos Estados de Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo durante quarenta dias. De regresso ao Japão, apresentou um relatório de observação, apontado o Estado de São Paulo o local ideal para eventual envio de imigrantes japoneses. 

1888 – O circo japonês de Manji Takezawa

Em 1888 Pedro II contratou o acrobata-samurai e professor de Jiu-Jítsu, o japonês Manji Takezawa, para ensinar Jiu-Jítsu para oficiais da Guarda Real. O pai de Manji também era acrobata, famoso no Japão, Toji Takezawa. Um ano após, com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, Manji ficou desempregado, mas permaneceu no Brasil. Continuou sua vida de acrobata, montou um circo chamado “Circo Imperial Japonês”. Manji Takezawa foi a Manaus com a companhia circense em 1890. E também esteve na Argentina e Uruguai. Takezawa foi o primeiro japonês no Brasil a se casar em outra etnia, pois se casou com uma italiana e tiveram 4 filhos.
Em 1898, vendeu o circo para pagar dívidas. 
Acrobata Takezawa Tôji e seu filho  Takezawa Manji, c. 1845 – artista : Utagawa Kuniyoshi


1889 – Wasaburo Otake


Foi o primeiro japonês a fixar residência no Brasil. Otake é o primeiro japonês que de fato desembarcou no Brasil e por aqui ficou por um bom tempo. (Veja postagem).

Wasaburo Otake

1894 - Sho Nemoto

Com o objetivo de promover a imigração japonesa para todo o mundo, foi criada em 1893 no Japão a Colonization Society, sob a responsabilidade da Marinha Japonesa. Os militares japoneses entendiam que para o Japão ter sua influência e poder em outros países, deveria ali fixar imigrantes, a fim de ter uma presença japonesa no território de interesse. Esses imigrantes poderiam constituir futuramente uma base de apoio para negociações comerciais, culturais; ou mesmo de apoio para ações militares. Aliado a isso, havia o interesse do governo japones em enviar para fora do Japão os cidadãos em dificuldades financeiras.
A Colonization Society enviou então em 1894 um funcionário, Sho Nemoto, para analisar alguns países e as condições para receberem imigrantes japoneses. Nemoto visitou a Guatemala, Nicarágua e Brasil. Destes, elegeu o Brasil como o melhor país para receber imigrantes, porem ressalvou que aqui os eles iriam exercer os trabalhos mais rústicos e pesados.
Sho Nemoto produziu um relatorio a respeito da sua viagem, reproduzido no link abaixo :
Relatorio Sho Nemoto (original em japonês)
Veja também neste blog : a visita de Sho Nemoto ao Brasil
 

Fontes :

“Making Waves: Politics, Propaganda, And The Emergence Of The Imperial Japanese Navy – 1868 – 1922”; J. Schencking

The Hispanic American Historical Review; James Alexander Robertson, Williams & Wilkins, 1952 
www.ndl.go.jp

1897 – Sutemi Chinda e

1889 -  Narinori Okoshi

Em 1895 Brasil e Japão assinaram em Paris um tratado de relações diplomáticas. Em consequencia deste acordo, em 21 de agosto de 1897, foi inaugurada a primeira legação japonesa no Brasil, em Petropolis, Rj. Sutemi Chinda foi o primeiro diplomata a ser nomeado, sob o pomposo titulo de Ministro Plenipontenciário do Japão no Brasil.  Petropolis era sede das embaixadas nesta época, pois a capital do Brasil, Rio de Janeiro, enfrentava problemas com a febre amarela.
Chinda foi sucedido por Narinori Okoshi. Os dois deixaram o Brasil desaconselhando a imigração de japoneses, não devem ter gostado da estadia por aqui.

Sutemi Chinda

1897 – Tsukitsu AokitsuEm janeiro de 1897,  a Cia. Kissa de Emigração (Kissa Imin-kaisha) enviou ao Brasil o seu funcionário Tsukitsu Aokitsu, para negociar com a empresa brasileira de imigração Prado Jordão & Cia. para realizar a primeira remessa de emigrantes. Aokitsu permaneceu no Brasil até maio daquele ano, e foram acertadas condições para a realização da primeira leva, que acabou em fracasso. Este episódio ficou conhecido como “o incidente do Tosa Maru”.

1905 – Fukashi Suguimura e Kubanichi Horiguchi

O terceiro diplomata em Petrópolis foi Fukashi Suguimura , chegou ao Brasil em 1905, para assumir o cargo. Com ele, veio Kubanichi Horiguchi, interprete que falava francês (na época, o idioma francês era a lingua usada entre os diplomatas). Suguimura foi um grande incentivador da imigração japonesa. Foi ele o autor de um relatório publicado no Japão, elogiando as condições do Brasil, que ficou conhecido como “O Relatório Suguiama”.

1906 – Saburo Kumabe e outros 

(Nagase, Torii, Masahiko Matsushita, Yoshizo Kudama, Ryoiti Yasuda, Shinkishi Arikawa e Tamezo Nishizawa)


Saburo Kumabe era juiz e levava uma vida confortável no Japão. Ao ler o Relatorio Suguiama, resolveu, num ato de loucura, migrar para o Brasil, trazendo toda familia, esposa e 5 filhos. Posteriormente, fundou a Colonia Macaé.

Saburo Kumabe
Juntamente com Kumabe, vieram Nagase, Torii, Masahiko Matsushita, Yoshizo Kudama, Ryoiti Yasuda, Shinkishi Arikawa e Tamezo Nishizawa. 



Nagase e Torii se mudaram para os Estados Unidos, Matsushita abriu um comércio em São Paulo.  Kudama faleceu em 1908, e foi o segundo japones a ser ser sepultado no Brasil. Os demais seguiram com Kumabe, para a Colonia Macaé.  

1906 – Ryu Mizuno e Teijiro Suzuki


Ryu Mizuno veio ao Brasil em 1906. Durante a viagem conhece Teijiro Suzuki, que tinha intenção de se estabelecer no Chile. Entretanto, Ryu convenceu Suzuki a conhecer o Brasil, e aqui chegaram, juntos em 1906. Teijiru Suzuki foi nomeado secretário da Hospedaria de Imigrantes de São Paulo, em 1907 ou 1908.
Ryō Mizuno - fonte ndl.go.jp
Ryu Mizuno

 
Teijiro Suzuki – fonte : Correio da Manhã

1906 – Ryoichi Yasuda


Ryoichi Yasuda, ou Ryoiti Yassuda (como foi registrado no Brasil) veio ao Brasil para auxiliar Mizuno nos preparativos da primeira leva no Brasil. O objetivo dele era realizar alguns trabalhos aqui e depois imigrar-se para os Estados Unidos. Quando aqui chegou, deveria encontrar-se com o ministro Suguimura. Mas ao chegar, este havia falecido. Sem o apoio do novo ministro e perdendo os contatos com o Japão, Ryoichi acabou passando por dificuldades. Trabalhou no porto de Santos como estivador para se garantir, mas não retornou ao Japão. Juntou-se a Saburo Kumabe na fracassada tentativa de fundar uma colônia em Macaé-Rj.  Teve aqui uma vida próspera e dinâmica. Seu filho, Fábio Yasuda, foi o Ministro da Industria e Comércio do governo Médici.

Ryoichi Yasuda e esposa

1906 – Os comerciantes das Casas Fujisaki (São Paulo)


Takeo Goto (19 anos), Teijiro Noma (35), Jukichi Sakuma (20) e Ryosaku Tanaka (20)  chegaram ao Brasil em Brasil em 1906, para iniciarem a instalação das Casas Fujisaki, em São Paulo (Rua São Bento, 58). Inaugurada ainda em 1906, a Casas Fujisaki foi pioneira no estabelecimento de relações comerciais entre Brasil e Japão, e pioneira também como empreendimento japonês em terras brasileiras. Comercializavam-se diversos produtos de fabricação japonesa, lenços de seda, estampas para bordado, tecidos floridos, chás, cerâmicas, peças em bambu, leques e brinquedos. O sucesso das Casas Fujisaki foi tão grande que o estoque se esgotou 4 dias depois da inauguração.
Nos anos seguintes, novas filiais foram abertas no Rio de Janeiro (1908) , Salvador (1911), Recife (1912), Buenos Aires (Argentina, 1912).

Takeo Goto – fonte : Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Casas Fujisaki em São Paulo – sem data

Casal Takeo Goto (a direita) e o casal Seishiro Kumasaka, funcionários da Casas Fujisaki , primeiros comerciantes japoneses no Brasil

1907 – Sanji Ohira


Em abril de 1907 desembarcou no Rio de Janeiro Sanji Ohira, com a missão de estruturar a casa comercial Comércio Nippaku. Pouco depois, chegaram seu filho Zentaro Ohira, e Gosuke Hachiya para tocarem o negócio
.

1908 – Umpei Hirano, Massaru Sakae Mine, Motohisa Ono, Junnosuke Kato, Takashi Nihei  - Os cinco interpretes


Quando o navio Kasato Maru desembarcou em abril de 1908, foram recebidos por um grupo de intérpretes : Umpei Hirano, Sakae (ou Massaru) Mine, Motohisa (ou Motonao)  Ōno, Junnosuke Katō, Takashi Nihei (ficaram conhecidos como “os Cinco Intérpretes”) . O nome dos 5 não consta na lista de bordo do Kasato Maru, portanto eles já estavam no Brasil. Quando estava no Japão organizando a primeira leva, Mizuno solicitou ao Ministério das Relações Exteriores que lhe providenciasse 5 interpretes. É provável que teve seu pedido aceito e que os cinco foram enviados pelo Ministério ao Brasil antes do Kasato Maru. Supõe-se que já falavam o espanhol e vieram antecipadamente para se familiarizarem com o idioma português. Ao chegarem ao Brasil, juntou-se a eles, para exercer as funções de interprete, Teijiru Suzuki, que aqui já se encontrava.

1908 – Yasaburo Yamagata

Yamagata desembarcou no Brasil em 18 de maio de 1908, apenas um mes antes da chegada do Kasato Maru. Era grande e próspero empresario do ramo de transporte marítimo no Japão. Mas faliu, e decidiu mudar-se para o Brasil, estabelecendo-se na cidade do Rio de Janeiro, onde abriu uma fábrica de fogos de artifícios e leques. Ao desistir da colona Macaé, Riyochi Yasuda foi trabalhar com Yasaburo, no Rio. 

1908 – Imigrantes do Kasato Maru



Por fim, em 1908 começam a vir ao Brasil grandes levas de imigrantes.

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Um comentário:

  1. Yasaburo Yamagatam, faleceu aos 65 anos de idade, no dia 25/02/1924, foi sepultado no cemitério da igreja de Sant'Anna em Macaé.

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