segunda-feira, 6 de junho de 2016

Kasato Maru–a chegada


A chegada do Kasato Maru em Santos

Imigração japonesa no Brasil

São poucos os registro da chegada do Kasato Maru. O jornal A Tribuna de Santos, edição de 18 de junho de 1908, noticiou a chegada, acrescentado uma nota de insatisfação com a presença dos japoneses.



A Tribuna de Santos, 18 de junho de 1908.
(transcrição)

As 9:30 da manhã de ontem, entrou em nosso porto o vapor japonês Kasato Maru, consignado á casa Wilson Sons & Cia., desta praça. E' esta a primeira viagem que esse vapor faz para portos do Brasil, tendo levado 51 dias de Kobe a este porto, tocando em Singapura e Capetown.
O Kasato Maru, que tem 3.823 toneladas de registro e 01 homens (sic) de tripulação, e é comando pelo capitão A. O. Stevens, trouxe 781 imigrantes japoneses para nosso Estado, que hoje devem seguir para a capital em trem especial, que partirá às 9 horas da manhã.
O Kasato Maru tambem traz a seu bordo vinte e poucos passageiros de classe, em viagem de recreio.
As 5 horas da tarde o Kasato Maru atracou no cais das Docas, em frente ao armazém no. 14.
Durante a viagem desse vapor, e já em águas brasileiras, deu-se no dia 15 do corrente, as 11 horas da noite, um lamentável facto, que vai noticiado noutra parte desta folha.
    Infelizmente, não consegui encontrar a “noutra parte desta folha”, 




O nosso solo é tão vasto e está na maior parte desabitado, que de qualquer modo precisa povoamento.
A nossa lavoura, grita-se por toda a parte, está sem braços !
Pois bem. Aí vão braços novos, de uma potencia formidável.
Parabéns à lavoura paulista, apesar de que, a nosso ver, não é caso para isso.
A experiência tem demonstrado que essa colonização asiática tem dado mau resultado em toda a parte. Os japoneses não se adaptam aos países em que vivem, são refratários aos usos e costumes alheios, constituem, fora da pátria, uma sociedade sua própria, como acontece na América do Norte.
Antes o perigo germânico e o ítalo, que nos parecem imaginários.


O calote de Ryu Mizuno


Mizuno era um visionário, mas um péssimo administrador. Sua companhia de imigração tinha as características de ser amadora. Tanto que somente no dia do embarque do Kasato Maru, Mizuno teve conhecimento que deveria pagar uma taxa portuária. Não tinha dinheiro para tal, e nem havia informado aos imigrantes a respeito.
A situação era essa : Mizuno tinha em Kobe quase 800 imigrantes esperando o embarque. As despesas de hospedagem e alimentação eram por sua conta, e ele não tinha dinheiro para liberar o navio. O prejuízo diário era grande.
A companhia havia recolhido todo dinheiro de um grupo emigrantes, guardando-o em envelopes separados, a fim de custodiá-lo. A companhia alegou, com razão, que poderia acontecer roubos ou extravios a bordo no decorrer da viagem. Não tendo dinheiro para pagar a taxa portuária, Mizuno negociou um desconto e conseguiu às pressas um empréstimo. Entretanto, não foi o suficiente, e por isso Mizuno lançou mão de uma atitude incrivelmente amadora : retirou de cada envelope custodiado um certo valor, sem comunicar aos imigrantes. A rigor, Mizuno cometeu uma apropriação indébita para conseguir pagar a taxa portuária.
Na chegada, já na Hospedaria dos Imigrantes, o grupo pediu de volta o dinheiro. Como Mizuno não se manifestava a respeito, passaram a cobra-lo, a pressiona-lo. Acuado e sem dinheiro, Mizuno inventou uma mentira, alegou que “ o dinheiro foi esquecido na sede da empresa no Japão”, e que deveriam esperar a remessa. Na iminência de embarcar nos trens rumo às fazendas, e sem o dinheiro, o grupo se exaltou e deram um ultimato a Mizuno, que teria reagido com violência, pode ter ocorrido até luta corporal. Mizuno teve que se refugiar nos fundos de um pequeno escritório. Shuhei Uetsuka, um representante da companhia, postou-se em frente a porta do escritório e conseguiu salvar Mizuno. Habilmente, conseguiu convencer os imigrantes que o dinheiro realmente estava no Japão, e que não havia outra solução senão esperar a remessa.  Uetsuka recorreu a um fato bem conhecido pelos japoneses da época, o bushido, código de honra dos samurais, que pregava  o suicídio em nome da honra. Disse a todos que se Mizuno não devolvesse o dinheiro, praticaria o harakiri.
E assim, sem um planejamento financeiro correto, Mizuno recorreu a ações não tão lícitas. Não se sabe se ele honrou os débitos mais tarde. 

Kasato Maru - as viagens às fazendas

Os imigrantes do Kasato foram separados em seis grupos,  para viajarem a seis fazendas.  As viagens foram em trens, de um ou dois vagões apenas. A Hospedaria forneceu a cada imigrante um grande pão, duro e cascudo, e um pequeno salame. Conta-se que detestaram o salame, e quando o trem fazia parada, muitos venderam seu salame aos brasileiros que estavam na estação.  Essas  vendas eram feitas da janela do trem, pois era proibido sair do trem.  Temia-se que se saissem iriam perder-se. 

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