Blog da imigração japonesa no Brasil
A primeira colonia japonesa no Brasil
A Katsura foi a primeira colônia japonesa no Brasil. No inicio do ano 1913 uma empresa japonesa, Brasil Takushoku Kaisha enviou ao Brasil uma equipe, com intuito de assentar aqui imigrantes. Escolheram uma área num local chamado Bairro Jipovura, às margens do rio Ribeira, a 20 quilômetros por via fluvial da cidade de Iguape, Sp. A área era do município, e foi doada pelo prefeito à companhia. A região do Iguape, na época já era bastante próspera e grande produtora de arroz.
Carta convidando japoneses a imigrar ao Brasil e se instalar na Colonia Katsura.
Em 09 de novembro de 1913 a companhia trouxe do Japão 36 famílias de emigrantes, liderados por Ikutaro Aoyagui; chegaram ao local, e ali fundaram a Katsura, assim batizada em homenagem ao então Primeiro Ministro do Japão, Taro Katsura.
A área destinada para a colônia tinha inicialmente 3.960 alqueires. Três anos depois foi ampliada para 8.840 alqueires. O local foi escolhido por ser área pantanosa, ideal para o cultivo do arroz.
A colônia foi inicialmente administrada pela Brasil Takushoku Kaisha; que trouxe do Japão dois Engenheiros Agronomos, um médico e um agrimensor. Posteriormente a administração passou para a empresa KKKK – Kagai Kogyo Kabushiki Kaisha.
A Katsura se desenvolveu rapidamente, com produção de arroz, cachaça, culturas agrícolas diversas e bicho da seda. Em pouco tempo, já contava com sede de Correios, comércio local, 4 beneficiadoras de arroz, escola, serraria e igreja.
Uma escola na colonia Katsura, em dia de festa.
Em 1917, com a chegada de novos imigrantes, a colônia contava com 52 famílias. Iniciou-se então um período de muita riqueza e prosperidade, que durou até aos meados da década de 40, quando então começou o período de decadência.
O declínio e o fim da Colonia Katsura
Com a construção de rodovias e a decadência do Porto Grande (veja texto a seguir), o transporte fluvial, que servia a colônia, foi aos poucos sendo desativado. Em pouco tempo, os vapores da Companhia de Navegação Fluvial Sul Paulista que atendiam a colônia foram abandonados, esquecidos nos portos.
Vapor Isabel, no Porto de Iguape, 1920.
A ocupação humana sem planejamento na área pantanosa provocou mudanças ambientais, e o Rio Ribeira do Iguape começou a assorear. Isso provocava grandes enchentes, que arruinavam as plantações e as casas. As águas começaram a invadir as margens, e nas grandes chuvas as enchentes levavam as casas e demais construções rio abaixo.
Também contribuiu para a ruina da colônia o inicio da Segunda Guerra e a campanha nacionalista do governo Vargas. As terras pertenciam a empresa japonesa colonizadora KKKK - Kagai Kogyo Kabushiki Kaisha, e eram arrendadas aos colonos. Com a guerra e a pressão nacionalista, a KKKK viu-se pressionada e obrigada a vender seu capital, deixando de ser empresa de origem japonesa. Com isso, os colonos perderam vários privilégios e apoios da KKKK. Alguns tiveram de deixar as terras, por exigência dos novos proprietários da KKKK.
Sede da KKKK em Registro, Sp
A maioria dos colonos mudou-se para as cidades de Iguape e Registro, e no final dos anos 50 a Colonia Katsura praticamente ficou deserta, abandonada.
Hoje no local a natureza retomou o seu espaço, existe ali um matagal. O Iphan (Instituto do Patrimonio Histórico e Artistico Nacional) tombou várias construções abandonadas no local, para preserva a memória dos tempos áureos.
Memorial dedicado aos pioneiros, fundadores da Katsura, em Iguape, Sp.
O grande desastre ecológico.
A principal causa da derrocada da colonia Katsura foi uma desastrada e irresponsável interferência do homem no meio ambiente.
A produção de arroz do Vale do Ribeira, incluindo aí a colonia Katsura, era levada até Iguape por via fluvial, por barcaças tocadas a vapor. Ali era desembarcada em um porto fluvial e após ser beneficiada, era levada até o porto marítimo, denominado Porto Grande. A distancia entre os dois portos era de tres quilometros, e o transporte da produção feito em carroças e lombo de burros.
Vapor no rio Ribeira do Iguape
Vapor Isabel, passando pelo Bairro Jipovura, c. 1910
Deciciu-se então fazer um canal artificial, que ligasse os dois portos, permitindo dessa forma que o arroz fosse transportado por barcaças até ao porto marítimo. Isso ia baratear e agilizar o transporte. Após anos de debates sobre a construção do canal, decidiu-se que seria construido em linha reta, no trecho mais curto. Alem disso, o terreno do traçado escolhido era erenoso, bem fácil de ser escavado. Essa decisão foi desastrosa, como veremos a seguir.
Mapa de Iguape, em 1930. O canal, denominado de Valo Grande, foi aberto por escravos.
Iniciada a construção, após 20 anos de trabalhos executados por escravos, foi inaugurado o canal em 1852. Originalmente o canal tinha 4 a 5 metros de largura, suficiente para passar uma barcaça.
Entretanto, este canal foi feito sem estudos de impactos ambientais, sem estudos geológicos, etc. O desnivel entre os portos era grande, e formou-se uma correnteza no canal. Essa correnteza foi erodindo as margens e alargando lentamente o canal. Nos períodos de enchente, a erosão era maior ainda. O que era uma vala de 4 a 5 metros foi se transformando em uma enorme vala. A certa altura, a vala aproximou-se da cidade, ameaçando engoli-la. O canal ganhou novo nome : “Valo Grande”. Por volta de 1900, foram feitas grandes obras de contenção das margens, com pedras, o que salvou a cidade.
O Valo Grande, em Iguape. O que inicialmente era um pequeno canal de 4 a 5 metros de largura, transformou-se neste grande canal.
Com o passar de anos, o canal foi continuamente levando sedimentos (terra, areia, material orgânico, etc ) ao Mar Pequeno, mais precisamente no local do Porto Grande. O porto acabou assoreado, e aos poucos os navios de grande calado se recusavam a atracar ali, devido ao risco de encalhe. Por volta de 1955, após um século de assoreamento contínuo, o porto acabou no abandono.
A grande quantidade de água doce trazida pelo canal também alterou a fauna marítima do local, arruinando a atividade pesqueira que existia na época.
Por fim, com o porto arruinado pelo assoreamento, a região do Iguape, e junto com ela, a colonia Katsura ficaram economicamente ilhadas, isoladas. Sem o canal de escoamento de sua produção, a região entrou em decadencia.
Localização provavel da Colonia Katsura
Não consegui encontrar essa informação, aonde existiu a Colonia Katsura. Se alguem puder me ajudar, agradeço. Para mim, o local mais provavel foi esse :
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