A Colonia Macaé
Imigracao japonesa no Brasil
Os imigrantes do Kasato Maru são considerados os pioneiros da imigração japonesa ao Brasil. Justiça seja feita, antes deles, já existia uma pequena colônia japonesa no Brasil, formalmente organizada. O Kasato Maru deixou registros, fotos, foi uma leva bem maior, sem dúvida; mas a Colônia Macaé caiu no esquecimento.
A Colônia Macaé nasceu de um sonho louco, de um projeto idílico. Saburo Kumabe (1865-1926) era formado em Direito, exercendo as funções de juiz em Kagoshima, no Japão. Casou-se e teve 5 filhos, sendo 4 meninas. Levava uma vida estável e confortável, mas ao ler o relatório do ministro Fukashi Suguimura, sonhou em instalar uma colônia no Brasil. Começou então arregimentar jovens dispostos a acompanha-lo na empreitada. Suspeita-se que Kumabe tinha como principal objetivo dar sua colaboração na expansão da influência japonesa em terras estrangeiras.
Em 1906 chegou ao Brasil com toda a família e os demais jovens que se engajaram nesta arrojada aventura : Ryoichi Yasuda, Shinkichi Arikawa, Tamezo Nishizawa, Yoshizu Kudama, Masahiko Matsushita, Nagase e Torii.. Ao aqui chegarem, constataram que o seu grande aliado, o Ministro Suguimura, havia falecido. Suguimura seria o grande negociador da empreitada, junto aos governos de estados. Sem o apoio do ministro falecido e sem muitos recursos, instalaram-se na cidade de São Paulo, onde viveram de pequenos trabalhos em fábricas, restaurantes e em estiva; passando por enormes dificuldades. A familia Kumabe sobreviveu a duras penas, fabricando cigarros de palha.
No ano seguinte, 1907, Ryo Mizuno, diretor da Cia. De Imigração Japonesa, firma um acordo de colonização com o estado do Rio de Janeiro, recebendo terras num local chamado de Vila da Conceição de Macabu, na época pertencente a Macaé. Convidou então Kumabe e seus companheiros para formar a tão sonhada colônia agrícola no local.
Nagase e Torii já não estavam no Brasil, tinham se mudado para os Estados Unidos. Matsushita não aceitou o convite, tinha virado comerciante em Sao Paulo. Kudama estava com sérios problemas de saúde, também não aceitou o convite.
Em 11 de novembro de 1907 Saburo, sua familia, acompanhado de Yasuda, Arikawa e Nishizawa deixam a cidade de São Paulo, e chegam em Macaé no dia 29 de novembro, numa viagem que durou 18 dias.
Ao chegarem no local, constataram que a região era habitada por ex-escravos. Toki, filha de Kumabe, já havia aprendido algum portugues, porem não conseguiu dialogar com eles, pois usavam um dialeto resultante da fusão de portugues com outro idioma africano.
Municipio de Macaé, Rj.
Nishizawa abandonou a colonia pouco depois da chegada, decepcionado com as condições do local.
Arikawa ficou com Kumabe, mas por um motivo : estava noivo da sua filha mais velha. Porem alguns meses depois, desmanchou o noivado e também abandonou o local. No ano seguinte, 1908, Haruyoshi Takaoka, Shiguekiti Okamura e Jihei Takakura, vindos do Kasato Maru, juntaram-se a Kumabe na colonia. Riyoiti Yasuda também recebeu no seu lote de terras 4 imigrantes do Kasato Maru, que haviam fugido de uma fazenda de café no estado de São Paulo. Mas, em 1910 Yasuda também desistiu da colonia e mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro.
A colonia, enorme (3.200 hectares), tinha já alguma infra estrutura, com paióis de milho e café, moinhos de farinha de mandioca e milho, estábulo, casa-grande e senzala do tempo da escravidão, capela e alambique. . Apesar disso a Colonia Macaé não progrediu, por vários motivos. Não existiu apoio do estado do Rio de Janeiro (ao contrário do estado de São Paulo, que muito ajudou aos imigrantes). Os imigrantes não tinham experiencia com a agricultura, eram no Japão professores, funcionários públicos, etc. . Também ocorreram surtos de doenças como a malária; a proliferação da praga da saúva (especie de formiga que ataca as plantações).
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Kumabe abandonou a colônia em 1912, indo morar no Rio de Janeiro. Ali empregou-se numa empresa que comercializava materiais de iluminação a gás e de materiais para instalação elétrica. Todo o material era importado e Kumabe foi contratado porque sabia falar ingles. Duas de suas filhas se formaram no segundo grau, tornando-se professoras. Para exercer a profissão, tiveram que se naturalizar. Foram elas os primeiros japoneses a se formarem no Brasil e também a se naturalizarem. O único filho de Kumabe, Keiiti, mudou-se para os Estados Unidos.
Kumabe suicidou-se em 1926, aos 61 anos de idade.
Fábio Yassuda, um dos filhos do pioneiro Ryochi Yassuda (1879-1971), tornou-se o primeiro descendente a ocupar um ministério : o da Industria e Comércio, durante o governo Médici, nomeado em 1969.
Um outro descendente que também foi ministro : Shigueaki Ueki, Ministro das Minas e Energia do governo Geisel.
Fantástico e Histórico reportaje. Gracias. Ricardo
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