A expulsão dos
imigrantes japoneses do litoral
(Segunda Guerra Mundial)
Reportagem – Folha da Manhã, edição de 09/07/1943.
(Este post é apenas uma curiosidade, sem qualquer intenção de contestação,
julgamento, etc)
A História do Brasil que foi ensinada aos
da minha geração, no ginásio e colégio, era bem florida, enaltecendo nossos
heróis, contando nossas vitorias, etc, tinha um contexto moldado pelo então
Regime Militar, que na época enaltecia (com razão) o sentimento de patriotismo.
Porem alguns esqueletos foram esquecidos no armário, como foi o episodio da
expulsão dos imigrantes japoneses, italianos e alemães do litoral do Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial.
O motivo dessa expulsão foi absolutamente
absurda, surreal. Os militares brasileiros temiam que navios do eixo invadissem
nosso litoral, e os conterrâneos daqui os guiassem de alguma forma o
desembarque de soldados. Chegou-se a afirmar que eles iam a noite, nas
praias, guiar os navios e os submarinos com
sinais feitos com lamparinas de querosene (!). Naqueles tempos, sem
porta-aviões e outros apoios logísticos,
era praticamente impossível um navio de guerra chegar ao Brasil, partindo da
Alemanha, Itália ou Japão. Além disso, os imigrantes eram praticamente todos
agricultores, nenhum executava atividade de pesca, ou seja, não tinham barcos
nem pratica nenhuma em navegar.
Como foram poucos os italianos e alemães
que se instalaram no litoral, praticamente todos os expulsos eram japoneses.
No litoral do Parana, os japoneses da Colonia
Kakatsu, atual Colonia Cacatu, foram também expulsos, trazidos para Curitiba. Quem
é descendente sabe, os imigrantes japoneses não gostam e evitam falar sobre
esse tipo de assunto.
Há algum tempo, resolvi pesquisar esta
historia esquecida. Seguindo algumas pistas, cheguei ao acervo da Folha de São
Paulo, e consegui localizar algumas reportagens sobre o a expulsão. A primeira reporatagem, é essa, sobre a expulsão dos japoneses do litoral do estado de Sao Paulo :
Essa é a primeira
reportagem, abaixo, para facilidade de leitura, segue transcrição :
“Com o intuito de
colher novas informações sobre os trabalhos de expurgo dos súditos dos países
do “eixo”, do litoral do Estado (de São Paulo), a reportagem da “Folha da
Noite” esteve ontem, a noite, na Superintendência de Segurança Politica e
Social , encontrando o sr. Augusto
Gonzaga, delegado de Ordem Política, no seu gabinete de trabalho. Inteirado da nossa missão, o delegado de Ordem
Politica nos adiantou que os trabalhos realizados pela policia estavam seguindo
o curso traçado pelo superintendente da Segurança Politica e Social, segundo as
autoridades ora destacadas na zona litorânea informaram. A parte sul, continuou
S. S., já foi percorrida ate Itanhaen pelo sr. Tavares de Carmo, delegado
Regional de Santos. Os serviços de transporte dos súditos do “eixo” estão se
processando regularmente pela ferrovia, tendo chegado a esta capital numerosas
famílias que estão sendo recolhidas no prédio da Imigração (Hospedaria dos
Imigrantes) até ficar estabelecido o local em que cada uma dessas famílias deve
residir no interior do Estado.
A propósito do tempo gasto com a
preparação do expurgo, o delegado da Ordem Politica nos declarou o seguinte :
“Logo que assumiu o exercício da
Supererintendencia de Segurança Politica e Social, há cerca de seis meses, o
major Hildeberto Vieira de Mello teve sua atenção atraída para o problema de
existência de numerosos súditos do “eixo” localizados na zona litorânea.
De acordo com o resultado das averiguações
“in loco” e estudos que vinham sendo feitos desde a administração anterior,
constituía esse problema assunto de alta relevância, reclamando pronta solução
que viesse acautelar os interesses da segurança nacional.
Sem perda de tempo, o major Vieira de
Mello expediu instruções para que todos os referidos estrangeiros fossem
intimados a mudar-se do litoral, dentro do prazo razoável que lhes foi marcado.
Muitos obedeceram prontamente, outros,
porem, valendo-se do prazo de tolerância que lhes fora concedido, permaneceram.
Agora esgotado o prazo, e tendo em vista
as conveniências da ordem politica e social, foram adotadas as medidas
coercitivas que se impunham para tornar efetiva aquela providencia por parte
dos retardatários ou recalcitrantes, consoante já é do domínio publico.
Tudo foi feito com ordem e não há motivo
para qualquer alegação de surpresa por parte dos interessados, que foram
prevenidos com bastante antecedência e, só a si mesmo poderão culpar pelo
atropelo ou constrangimento, que as ordens ultimamente expedidas poderão estar
ocasionando.
Da parte da Superintendência tudo tem
sido feito, para minora esses inconvenientes, sempre sem prejuízo da pronta
execução da aludida providencia, que, a bem dos interesses da pátria, não pode
sofrer qualquer adiamento ou tergiversão. “