segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Colônia Macaé




A Colonia Macaé 

Imigracao japonesa no Brasil 

Os imigrantes do Kasato Maru são considerados os pioneiros da imigração japonesa ao Brasil. Justiça seja feita, antes deles, já existia uma pequena colônia japonesa no Brasil, formalmente organizada. O Kasato Maru deixou registros, fotos, foi uma leva bem maior, sem dúvida; mas a Colônia Macaé caiu no esquecimento.
A Colônia Macaé nasceu de um sonho louco, de um projeto idílico. Saburo Kumabe (1865-1926) era formado em Direito, exercendo as funções de juiz em Kagoshima, no Japão. Casou-se e teve 5 filhos, sendo 4 meninas. Levava uma vida estável e confortável, mas ao ler o relatório do ministro Fukashi Suguimura, sonhou em instalar uma colônia no Brasil. Começou então arregimentar jovens dispostos a acompanha-lo na empreitada. Suspeita-se que Kumabe tinha como principal objetivo dar sua colaboração na expansão da influência japonesa em terras estrangeiras. 

Saburo Kumabe
Saburo Kumabe

Em 1906 chegou ao Brasil com toda a família e os demais jovens que se engajaram nesta arrojada aventura : Ryoichi Yasuda, Shinkichi Arikawa, Tamezo Nishizawa, Yoshizu Kudama, Masahiko Matsushita, Nagase e Torii.. Ao aqui chegarem, constataram que o seu grande aliado, o Ministro Suguimura, havia falecido.  Suguimura seria o grande negociador da empreitada, junto aos governos de estados. Sem o apoio do ministro falecido e sem muitos recursos, instalaram-se na cidade de São Paulo, onde viveram de pequenos trabalhos em fábricas, restaurantes e em estiva; passando por enormes dificuldades.  A familia Kumabe sobreviveu a duras penas, fabricando cigarros de palha.
No ano seguinte, 1907, Ryo Mizuno, diretor da Cia. De Imigração Japonesa, firma um acordo de colonização com o estado do Rio de Janeiro, recebendo terras num local chamado de Vila da Conceição de Macabu, na época pertencente a Macaé. Convidou então Kumabe e seus companheiros para formar a tão sonhada colônia agrícola no local.
Nagase e Torii já não estavam no Brasil, tinham se mudado para os Estados Unidos. Matsushita não aceitou o convite, tinha virado comerciante em Sao Paulo. Kudama estava com sérios problemas de saúde, também não aceitou o convite.
Em 11 de novembro de 1907 Saburo, sua familia, acompanhado de Yasuda, Arikawa e Nishizawa deixam a cidade de São Paulo, e chegam em Macaé no dia 29 de novembro, numa viagem que durou 18 dias.
Ao chegarem no local, constataram que a região era habitada por ex-escravos. Toki, filha de Kumabe, já havia aprendido algum portugues, porem não conseguiu dialogar com eles, pois usavam um dialeto resultante da fusão de portugues com outro idioma africano.

Familia Kumabe
Familia Kumabe (sem data)

Municipio de Macae Rj
Municipio
de Macaé, Rj.
 

Nishizawa abandonou a colonia pouco depois da chegada, decepcionado com as condições do local.
Arikawa ficou com Kumabe, mas por um motivo : estava noivo da sua filha mais velha. Porem alguns meses depois, desmanchou o noivado e também abandonou o local. No ano seguinte, 1908, Haruyoshi Takaoka, Shiguekiti Okamura e Jihei Takakura, vindos do Kasato Maru, juntaram-se a Kumabe na colonia. Riyoiti Yasuda também recebeu no seu lote de terras 4 imigrantes do Kasato Maru, que haviam fugido de uma fazenda de café no estado de São Paulo. Mas, em 1910 Yasuda também desistiu da colonia e mudou-se para a cidade do  Rio de Janeiro.
A colonia, enorme (3.200 hectares), tinha já alguma infra estrutura, com paióis de milho e café, moinhos de farinha de mandioca e milho, estábulo, casa-grande e senzala do tempo da escravidão, capela e alambique. . Apesar disso a Colonia Macaé não progrediu, por vários motivos. Não existiu apoio do estado do Rio de Janeiro (ao contrário do estado de São Paulo, que muito ajudou aos imigrantes). Os imigrantes não tinham experiencia com a agricultura, eram no Japão professores, funcionários públicos, etc. . Também ocorreram surtos de doenças como a malária; a proliferação da praga da saúva (especie de formiga que ataca as plantações).
* * * * * * * * * * *
Kumabe abandonou a colônia em 1912, indo morar no Rio de Janeiro. Ali empregou-se numa empresa que comercializava materiais de iluminação a gás e de materiais para instalação elétrica. Todo o material era importado e Kumabe foi contratado porque sabia falar ingles.  Duas de suas filhas se formaram no segundo grau, tornando-se professoras. Para exercer a profissão, tiveram que se naturalizar. Foram elas os primeiros japoneses a se formarem no Brasil e também a se naturalizarem. O único filho de Kumabe, Keiiti, mudou-se para os Estados Unidos.
Kumabe suicidou-se em 1926, aos 61 anos de idade. 

Senhorita Kumabe com turma de alunos c. 1921
Uma das filhas de Saburo Kumabe, professora, ao lado de sua turma. 

Fábio Yassuda, um dos filhos do pioneiro Ryochi Yassuda (1879-1971), tornou-se o primeiro descendente a ocupar um ministério : o da Industria e Comércio, durante o governo Médici, nomeado em 1969.
Um outro descendente que também foi ministro : Shigueaki Ueki, Ministro das Minas e Energia do governo Geisel.

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Ryu Mizuno (ou Rio Midzuno)

Imigrãção japonesa no Brasil

Ryu Mizuno, o "pai" da imigração japonesa no Brasil


A vida de Ryu Mizuno no Japão

Nascido em 11 de novembro de 1859, recebeu o nome de Ikeno Gonossuke Minamoto Noritsune. Esse nome grande e esquisito foi dado pelo senhor feudal (daymio) das terras onde ele nasceu. O pai de Mizuno era samurai e coube ao seu daymio a honra de batizar o filho. Mais tarde, já adulto, mudou o nome para “Ryu Mizuno”.
A grafia “Ryu Mizuno” é a que aparece em toda a literatura a seu respeito. Entretanto, seu nome correto seria “Rio Midzuno”, pois era assim que ele assinava.
Assinatura de Ryo Mizuno
Assinatura : “Rio Midzuno” 
Mizuno formou-se e exerceu as funções de professor em escolas primárias. Porem em 1876, aos 17 anos, decidiu largar a profissão e tentar a sorte em Tokyo. Com uma carta de recomendação, conseguiu emprego de secretário particular do subsecretário do Imperador, Shinzo Ohashi. Em outras palavras, foi apadrinhado e virou secretário do secretário do subsecretário do secretário do Imperador. Algo como a bactéria da pulga do cavalo do bandido. Aspone.
Envolveu-se com a politica, e neste meio conheceu em 1882, aos 23 anos, Manjiro Nakahama, que tinha vivido 11 anos nos Estados Unidos e vivia lhe contando as maravilhas da América. Provavelmente este contato mexeu com a cabeça de Mizuno, que passou a sonhar com terras distantes.
Mizuno exerceu ainda as funções de policial e funcionário público do governo da província Okayama. Casou-se em 1884, com Kikuyo Iwasa, uma viúva, filha de um militar, mãe de um menino. O casamento foi arranjado por um amigo, este muito envolvido em política, a quem Mizuno era protegido e devia favores.
Em 1890 Mizuno participou de um atentado contra Shiguenobu Okura, primeiro-ministro do Japão. Enviaram a ele um pacote de presente, contendo dinamite, que deveria explodir ao ser aberto. Mas o plano fracassou, pois a dinamite não explodiu. Mizuno ficou na moita.
Em 1897 Mizuno, juntamente com outros políticos funda o Partido Socialista Popular. Pouco depois debandou-se para o Partido Popular Livre, candidata-se a deputado pela província de Nara. Durante a campanha, fez um discurso inflamado demais e acabou preso, ficando 40 dias em cadeia.
Abandonou a politica e fundou uma empresa de iluminação pública, uma empreitada que não deu certo. Acabou trabalhando de gerente numa fábrica de enlatados.
Finalmente em 1904 decide fundar uma empresa de imigração, Kookuko Shokumim Kaisha (Companhia Imperial de Emigração), convencido de que a presença japonesa fora do país fortaleceria o Japão, e que estaria oferecendo oportunidade de vida nova e próspera aos que desejavam deixar o Japão.  MIzuno teria ficado irritado com as altas taxas que as empresas de emigração estavam cobrando no Japão, para enviar emigrantes ao Hawai, Peru e outros países. As altas taxas deixavam os imigrantes endividados. “As empresas de emigração se esqueceram da felicidade do povo japones. Essa atitude é imperdoavel”, escreveu certa vez. Diante disso resolveu abrir a sua empresa.
Em 21 de dezembro de 1905, após conseguir empréstimos para custear sua viagem, Mizuno parte de Yokohama, rumo ao Brasil, em viagem de reconhecimento. 

A primeira viagem de Ryu Mizuno ao Brasil (1905)

Em sua primeira viagem, Mizuno  encontra-se com Teijiru Suzuki

Antes de organizar a primeira leva de imigrantes (que comporiam o Kasato Maru), Mizuno fez sua primeira viagem para cá. Embarcou em um navio no Japão em 21 de dezembro de 1905, aos 46 anos de idade, rumo ao Brasil via Oceano Pacífico, com uma parada em Valparaiso, Chile.  
Durante a viagem, conheceu Teijiro Suzuki, que estava a caminho do Chile, onde ia se estabelecer. Mizuno convenceu-o a trocar o Chile pelo Brasil
Tão logo que chegou ao Brasil, em companhia de Teijiro Suzuki, dirigiu-se imediatamente a Petropolis. Nesta cidade se encontravam as embaixadas de todos os países, e Mizuno foi encontrar-se com o Ministro Suguimura. Explicou suas intenções de trazer imigrantes, e que fora influenciado pelo relatório do Ministro e solicitou ajuda.
O Ministro então cedeu os serviços do interprete Arajiro Miura, e recomendou o trio (Mizuno, Miura e Suzuki) a procurarem as autoridades do estado de São Paulo. Para lá se dirigiram, foram recebidos pelo Secretário da Agricultura (Carlos Botelho), pelo diretor da Sociedade Imigratória de São Paulo (Bento Bueno) e pelo governador do estado, Jorge Tibiriça. Juntos, chegaram a conclusão que era impossível a vinda de imigrantes, pois não havia ainda leis regulamentando o assunto. O governo paulista alegou também que tinha dúvidas se um japones teria ou não condições de enfrentar o pesado trabalho nas lavouras de café. Prontamente, Teijiro se propôs a trabalhar nos cafezais por um período, a fim de conhecer o serviço e provar que o japonês era “pau para toda obra”.
Decepcionados, voltaram à Petrópolis. Lá chegando foram surpreendidos com a notícia da morte do Ministro Suguimura, vitima de AVC. Foi um choque para a dupla. O Ministro eram seus único apoio e incentivo no Brasil. Mizuno decidiu então voltar ao Japão, levando a família de Suguimura junto. Teijiro Suzuki permaneceu no Brasil, para cumprir o que havia prometido, e foi trabalhar nos cafezais. Um ano depois, voltou a São Paulo, ali mereceu reconhecimento do Secretário da Agricultura, que ficou admirado com a qualificação de Suzuki. Foi então nomeado secretário na Hospedaria dos Imigrantes.
Não fosse a iniciativa de Suzuki, a  primeira viagem ao Brasil teria sido um fracasso.
Teijiro Suzuki, na minha opinião, é um dos injustiçados na história da imigração japonesa no Brasil. Deveria existir mais reconhecimento pela sua coragem, sua determinação e confiança que depositou no nosso país, Brasil. 
Teijiro Suzuki aos 26 anos de idade
Teijiro Suzuki, aos 26 anos de idade.

A segunda viagem de Ryu Mizuno ao Brasil (1907)

Tendo notícias de que leis regulamentando a imigração japonesa haviam sido promulgadas no Brasil, Mizuno decide voltar para cá. Dirige-se mais uma vez a Petropolis, onde se encontra com o novo Ministro, Utida. Tal qual Suguimura, Utida era fervoroso defensor da idéia de se criar colônias japonesas aqui no Brasil.
No final do ano de 1907, Mizuno conseguiu fechar dois contratos, com o governo do Rio de Janeiro e do estado de São Paulo. Viajou mais de 60 vezes o trecho entre as cidades do Rio e São Paulo. Estes contratos estabeleciam que :
- Haveria a permissão de entrada de 1000 imigrantes japoneses por ano;
- Os imigrantes deveriam vir em grupo familiar de pelo menos 3 pessoas: marido, mulher e filho.
- A idade dos imigrantes deveria ser de 12 a 45 anos.
- Desembarque em Santos, nos meses de abril e maio;
- A empresa de Mizuno deveria providenciar 6 interpretes; e esses deveriam vir ao Brasil antes da primeira leva de imigrantes;
- O salário deveria ser de 200 mil réis
De posse com essas condições, Mizuno voltou ao Japão, a fim de organizar a primeira leva de imigrantes. É muito provável teria ele deixado algum funcionário sua empresa (Companhia Imperial de Emigração) fazendo recrutamento de emigrantes e àquela altura, já tinha a lista pronta.
 

Ryu Mizuno e Teijiru Suzuki atravessam os Andes

Em sua primeira viagem ao Brasil, o  navio aportou no Chile, onde faria uma escala. Porem no Chile aconteceram problemas burocráticos, o que obrigou Mizuno e seu amigo de viagem Suzuki a ficarem um mês no país. Finalmente, puderam comprar passagem de trem até Buenos Aires. No dia do embarque, já na estação ferroviária, uma pequena multidão cercou a dupla, Suzuki e Mizuno.
- É verdade que os japoneses venceram os coreanos e chineses ?
- Sim, respondeu Mizuno, é verdade.
Os chilenos ficaram espantados com a coragem e audácia dos japoneses, e lançaram um desafio :
- Voces venceram os coreanos e chineses, mas duvidamos que tenham coragem de atravessar os Andes.
Mizuno e Suzuki aceitaram o desafio imediatamente, abandonaram o trem. Iniciaram a jornada, a pé. Uma arriscadissima decisão, enfrentaram frio e as dificuldades de se atravessar os Andes. Mizuno conta que a certa altura da viagm, começou a entrar em pânico, mas Teijiro Suzuki começou a cantar alto, animando o amigo.  As duras penas,  chegaram a Mendoza, Argentina, onde foram recebidos como heróis. Dali prosseguiram de trem até  Buenos Aires. E ao ali chegar, Mizuno constatou que haviam roubado sua carteira, com todo dinheiro. Foi então a embaixada do Japão em Buenos Aires pedir socorro.
Depois de mais ou menos 90 dias de viagem, a dupla finalmente chegou ao Rio de Janeiro, em março de 1906.


Argentina mapa
Mizuno e Suzuki  fizeram o percurso Valparaiso-Mendoza a pé. 

Familia e últimos dias de Ryu Mizuno


Ryu Mizuno tinha dois filhos do primeiro casamento, no Japão. Um deles era enteado, pois se casou com uma  viúva que tinha um filho. Os dois faleceram de tuberculose, no Japão.
Quando a  primeira esposa faleceu, Ryu casou-se novamente, no Japão. A segunda esposa veio ao Brasil em 1923. Mizuno bebeu até os 60 anos, e fumou até morrer. Tinha o hábito de tomar guaraná em pó com cobra cascavel em pó.
Na idade avançada, se alimentava de mingau de aveia. Caminhava 6 quilometros por dia, mesmo após os 90 anos. Era um homem magro e forte.
Guardava grande respeito aos falecidos que haviam, de alguma forma, colaborado com suas realizações. Todos os dias acordava as 7:00h e após fazer preces, repetia o nome de todos, em memória deles. Segundo o filho mais novo, eram mais de 100 nomes.
Ryu Mizuno morreu em agosto de 1952 em São Paulo, aos 93 anos. A mulher, Maki, morreu em 1996, aos 97. Tiveram quatro filhos.

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Kasato Maru–o navio


 

O navio Kasato Maru 

Imigração japonesa ao Brasil

O navio foi construído na Inglaterra a pedido do Governo Russo em 1900, e chamou-se primeiramente Potosi, ganhando o nome de Kazan cinco anos depois. Em 1906, no final da guerra Russo-Japonesa, foi capturado pela marinha japonesa e adaptado para ser um navio de passageiros. Rebatizado para Kasato Maru, passou a ser usado na ocupação japonesa na Manchuria (China).
No mesmo ano(1906) passou a transportar imigrantes japoneses para o Havaí; em 1907, para o Peru e México, e em 1908 para o Brasil. Em 1934, passou a ser chamado de Kasado Maru. Em 1942, o navio foi requisitado pela Marinha Imperial Japonesa para fazer parte da esquadra japonesa na Segunda Guerra Mundial, como embarcação de apoio.

Kasato Maru -  National Diet Library. Japan
Kasato Maru – gravura - fonte : National Diet Library, Tokyo

Kasato Maru from Wiki
Kasato Maru, 1908 – fonte : Wikipedia

No dia 8 de agosto de 1945, no mar de Okhtosk, nas proximidades da foz do rio Kikhchik, Península de Kamchatk, Rússia, foi bombardeado por um avião militar russo, modelo Beriev MBR-2. O ataque provocou incêndio a bordo. Dois dias depois, em 10 de agosto de 1945 o Kasado Maru (ex-Kasato Maru) afundou.
Kanchatka Peninsula
Região do naufragio do Kasato Maru

Beriev MBR-2

O resgate do Kasato Maru

Em março de 2011, a Embaixada da Federação da Rússia no Brasil e ao Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa iniciaram negociações para resgate de peças do navio. Em 10 de dezembro de 2013, a primeira autorização enfim foi oficializada para que se pudesse dar início aos projetos necessários.
Em abril de 2015, o Governo do Estado do Paraná e o Senado Federal manifestaram-se favoravelmente a respeito, e formalizou-se o pedido, entregue a embaixada russa no Brasil.
Em 19 de junho de 2015, a embaixada russa emitiu uma nota oficial endereçada ao Ministro da Cultura do Brasil, informando sobre a realização , pela Sociedade Geográfica Russa (sediada em São Petersburgo), de uma expedição para estudos sobre biologia marinha, aquecimento global, análise de caldeiras vulcânicas e outros estudos, nas proximidades do local do naufrágio. A esta expedição cientifica poderia então ser incluída os trabalhos de resgate no Kasato Maru. Foi designado, como representante do Brasil nesta empreitada o Instituto Tecnológico e Ambiental do Paraná – ITAPAR, localizado na cidade de Curitiba.
Inicialmente o cronograma previa o resgate das peças em junho ou agosto de 2016, entretanto noticias recentes (hoje é dia 03 de julho de 2016) afirmam que o navio sequer estaria localizado. Localizar um navio em águas profundas é uma tarefa monumental, demanda muitos recursos, e dependendo de onde ele parou dificilmente será localizado. Ou seja, este resgate pode até ficar apenas no papel.

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Kasato Maru-Lista de emigrantes


Lista de imigrantes do Kasato Maru

Lista de passageiros Kasato Maru

Foi encontrada em 2008 a lista de bordo do Kasato Maru, primeira leva. Junto a lista dos emigrantes, foi anexada a carta que segue, escrita por um funcionário da embaixada brasileira em Kobe. O autor desta carta é Alcino Santos Silva, um funcionário do Consulado do Brasil no Japão.  Seguem as imagens da carta . Fiz a transcrição para facilitar a leitura.



Consulado dos E. U. do Brazil
Yokohama, 30 de abril de 1908.
(Carimbo : “A director de terras, colonização e immigração”“junho 9 1908”“Auxiliar de Gabinete”
(Assinatura)
Notas do blogger : a data do cabeçalho (30 de abril de 1908) deve estar incorreta, pois o navio zarpou em 28 de abril. Provavelmente o consul escreveu a carta antecipadamente, e supôs que o navio zarparia na data 30 de abril de 1908.O carimbo é de protocolo, e também está com a data incorreta; a data mais provável é “julho 19 1908”.
Senhor Secretário,
Tenho a honra de remeter a V. S. a inclusa lista dos primeiros imigrantes japoneses que no dia 28 do corrente partiram para Santos pelo “Kasato Maru”.
Segundo declarou-me o Presidente da Companhia de Emigração (refere-se a Ryu Mizuno, presidente da Cia. Imperial de Imigração), é em cumprimento de um acordo concluido entre o Governo de V. S. e a sua Companhia, que esses emigrantes foram expedidos para o Estado de S. Paulo. Apesar de nenhuma comunicação ter recebido a respeito deste contrato, acreditei no que me disse o dito Presidente e dei instruções ao Vice Consul em Kobe para proceder como se os emigrantes fossem introduzidos por conta do Governo de V.S. Eu mesmo compareci ao embarque, procurando facilitar e satisfazer todas as formalidades que poderiam escapar ao nosso Vice Consul, que é estrangeiro e tem muitas ocupações como chefe de sua casa comercial.


Ao Ilmo. Sr. Secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas de São Paulo.




Infelizmente, na confecção da inclusa lista houve algumas lacunas que não me foi possível corrigir pela falta de tempo, pois ao chegar a Kobe já estava ela feita. Autorizei ao Vice Consul a legaliza-la bem como os passaportes, aguardando-me para dar a V.S. as explicações e esclarecimentos necessários.
Na parte relativa as idades V.S. notará um contraste entre o número de anos e as datas de nascimento declarados nos passaportes, é que é devido a maneira especial de contar as idades no Japão. Assim é que, a criança tem um ano no dia em que nasce e no ano seguinte, sem que para isso seja preciso o decurso de doze meses, tem ela dois anos. Por exemplo: uma criança nascida em 30 de dezembro, tem um ano neste dia, e em 1º. de janeiro tem ela dois anos, quando a sua idade para nós é de três dias.
Na coluna destinada aos chefes de família há também um engano, ainda devido ao uso do país, pelo qual o chefe de uma família, em todas as circunstancias da vida, é o parente mais chegado e mais velho. Daí a menção de alguns chefes que figuram no Japão. Neste sentido há uma declaração junta a cada passaporte. Demais, pedi ao Sr. Mizuno para organizar a bordo uma lista complementar, mencionando os chefes de famílias que seguiram para o Brasil. Na lista, as pessoas pertencentes a mesma família estão ligadas por um traço vermelho.
V. S. observará também uma falta de uniformidade em alguns passaportes.......



.... passaportes, isto é, Prefeituras há que concedem um passaporte para cada individuo, e outras um único para cada família.
Alem destas faltas é possível, que V.S. encontre outras. Espero que elas serão desculpadas, atendendo a que é a primeira vez que daqui se manda emigrantes para o Brasil, e que os costumes desta terra são completamente diferentes dos nossos.
Para o futuro, darei, em tempo, as necessárias providencias a fim de que todos os documentos sejam estabelecidos, tanto quanto possível, conforme as exigências das nossas leis.
Todos os imigrantes foram vacinados, inspecionados e as suas bagagens desinfectadas antes de serem embarcadas. O vapor que os conduz, é o ex-Kaiserin, antigo navio-hospital russo encontrado em Port-Arthur pelos japoneses. A sua instalação pareceu-me higiênica.
A impressão que tive desses imigrantes não foi totalmente desfavorável, sobretudo, tendo-se em vista do tipo japonês, que é de baixa estatura, de aparência mais fraca do que forte e, em seu conjunto, bastante feio.
Os homens da ilha de Riu-Shiu (Okinawa), de aspecto agradável, pareceram-me fortes e resistentes. A gente dessa parte do Japão é muito dada a agricultura, obediente e ativa, e estou certo de que em S. Paulo esses trabalhadores serão justamente apreciados. Falam um espécie de patois (dialeto), que os próprios japoneses 


... tem necessidade de interpretes para se entenderem com eles.
Penso que no fim de uma ou duas colheitas V.S. poderá facilmente julgar da força e do caráter destes emigrantes, de quem, seja dito de passagem, não se deverá exigir mais de 2/3 do trabalho produzido por um emigrante branco. Os salários, naturalmente, devem ser pagos nesta proporção.
Os japoneses, mais do que qualquer outro emigrante, só trabalha sob as ordens de um chefe (oyabun), a quem obedecem cegamente.
Aproveito com prazer deste ensejo, Sr. Secretário, para ainda uma vez, oferecer os meus insignificantes serviços, em tudo o que neste Império possa interessar ao Estado de S. Paulo, e pessoalmente, a V.S.
Tenho a honra de reiterar a V.S. os protestos de minha alta estima e distinta consideração,
(Assinatura) Alcino Santos Silva

A lista de imigrantes do Kasato Maru 

A lista contem 841 emigrantes, dos quais 60 desistiram de embarcar, restandos os 781 que chegaram ao Brasil.
Segue abaixo a primeira pagina da lista :

Lista de passageiros Kasato Maru, pagina 1

A lista de passageiros finaliza  na pagina 22 :

LIsta de passageiros Kasato Maru - pagina 22

A pagina 23, no final,  foi usada para as formalidades legais e observações. 


Segue abaixo a transcrição desta pagina : 

We here .... declare that the Names mentioned in this list correspond to the names of the passports and that the following names of this list, 298-302, 351, 355-360, 389-392, 403-416, 439-463, 636, 748 have been canceled of which, no. 748 also has been added again, and the names of numbers 288, 313, 685, 736-739 have been corrected by red ink.
Rio MidzunoPresident of Kokoku Shokumim Kaisha(The Empire Imigration Co.)Tokyo, Japan
…..
Kobe April, 22nd. 1908.
Numbers 194 and 195 have also been canceled and the total number of emigrants is 781.Rio MidzunoPresident of Kokoru Shokumin Kaisha(The Empire Imigration Co.)

Je certifie que les declarations ci-dessus on été faites à ma satisfaction.
Kobe 28 de abril de 1908.
AssinaturaVice consul do Brasil

Há no final da pagina uma declaração do vice-consul do Brasil em Kobe, certificando que as declarações o satisfazem (isto é, estão de acordo com as suas vontades). Foi feita em frances, pois esta era a lingua usada nas relações diplomáticas, na época.


A ultima pagina, numero 26, foi emitida pelo funcionário da Secretaria da Agricultura, Ernani Pereira, em Kobe, aos 13 de junho de 1908.


Para ver a lista completa, em PDF, clique no link abaixo:


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Diario de bordo do Ryu Mizuno e o Kokai Shimbun

  

Kasato Maru - o diário de bordo de Ryu Mizuno

Uma caderneta de 12 cm de altura por 6 cm de largura guarda os segredos dos 52 dias de viagem do Kasato Maru. Esquecido por 90 anos no baú da viúva de Ryu Mizuno, o diário de Mizuno revela o dia-a-dia no mar. O diário está guardado no Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka, em Bastos (536 km de São Paulo).

Diário de Ryu Mizuno
Por algum tempo eu procurei este diário, com a esperança de encontrar ali um relato interessante, rico e revelador. Infelizmente, o diário é bem banal, com poucas informações. Tudo indica que Mizuno não gostava muito de escrever. Havia muito para relatar : brigas, doenças, características de pessoas, alimentação, higiene, reclamações, ações de entretenimento, e tudo mais que poderia acontecer num caldeirão fervente de mais de 700 pessoas espremidas num pequeno barco. Mas Mizuno pecou, e fez um diário sem muito valor.
E infelizmente nenhum dos imigrantes deixou alguma coisa escrita sobre a viagem.
A tradução que segue, foi feita por Masato Ninomiya, professor da USP e tradutor oficial do imperador do Japão.

Segue a tradução do diário, texto integral :


28 de abril Terça-feira, céu limpo. O vapor zarpou às 17h55.
29 de abril Quarta-feira, céu limpo
30 de abril Quinta-feira, céu limpo. Às 10h avistou-se a ilha Suwase a estibordo, tendo o vapor seguido o seu trajeto.Pouca chuva ao entardecer.
1º de maio Sexta-feira, forte chuva pela manhã e depois céu limpo.
2 de maio Sábado, céu nublado. Avistou-se às 20h um farol giratório (Turn Abant).
3 de maio Domingo, céu límpido. Avistaram-se as ilhas Kyodai (Irmas) ao meio dia. Avistou-se a ilha Raba às 15h30. Falou-se que por alguns dias não se avistará nenhuma ilha no trajeto.
4 de maio Segunda-feira, céu límpido. O calor está se tornando cada vez mais intenso.5 de maio Terça-feira, céu límpido. Fez muito calor na noite anterior e muitos sofreram com isso. 
6 de maio Quarta-feira, céu límpido. Houve um foguista que esbravejou soltando palavrões na noite passada. É mister tomar cuidado, embora seja uma pequena ocorrência durante a calma em que transcorre a viagem.
7 de maio Quinta-feira, céu límpido. Consta que houve inquietação tanto da parte do foguista de plantão como entre os imigrantes.

Nota do bloguista : supostamente o foguista teria tentado adentrar nas cabines dos imigrantes à noite, com o intuito de atacar as mulheres

15 de maio Sexta-feira, céu nublado
16 de maio Sábado, céu limpo. Desde o dia 13, sentimos o sopro do vento meridional e o navio tem balançado muito; e muitos estão com enjôo.

17 de maio Domingo, chuvas fortes esporádicas
18 de maio Segunda-feira, céu limpo. Sopro de brisa fresca a partir deste dia. Pouco balanço no navio. Temperatura quente.
19 de maio Terça-feira, céu limpo
20 de maio Quarta-feira, metade do dia chuvoso
21 de maio Quinta-feira, céu limpo
22 de maio Sexta-feira, céu limpo

23 de maio Sábado, céu limpo\
24 de maio Domingo, céu limpo. Avistou-se, à tarde, a ilha de Mauricio* , possessão inglesa.\
25 de maio Segunda-feira, nublado. Vimos pela manhã a ilha de São Reunião *. O diâmetro é de cerca de 30 milhas e disseram que produziam cana-de-açúcar.


Ilhas Reunião e Mauricio, citadas no diário de Mizuno


26 de maioTerça-feira, céu limpo
27 de maio Quarta-feira, céu limpo. Avistou-se a ilha de Madagascar pela manhã.
28 de maio Quinta-feira, céu limpo. Verificou-se nesta noite que a esposa de Motonao Ohno esteve desaparecida por cerca de cinco horas.

Nota: a notícia de que Matsuko Ohno, esposa de Motonao Ohno, teria desaparecido por cerca de 5 horas foi levada ao conhecimento de tripulação e demais passageiros do navio através de Masako, esposa de Takashi Nihei, e o fato provocou uma grande confusão. Soube-se mais tarde que ela se encontrava numa das cabines de classe superior.


6 de junho  Sábado, céu límpido
7 de junho Domingo, dia meio nublado com vento
8 de junho Segunda-feira, céu límpido com vento. Neste momento, o navio balançou muito e objetos que estavam nas estantes chegaram a cair.
9 de junho Terça-feira, céu límpido
10 de junho Quarta-feira, céu límpido
11 de junho Quinta-feira, céu limpo com pequenas ondas
12 de junho Sexta-feira, céu límpido
13 de junho Sábado, céu meio nublado
14 de junho Domingo, céu límpido
15 de junho Segunda-feira, céu límpido. Houve festa ontem à noite. Tarde da noite, um foguista de mau caráter quis me atacar, mas foi impedido por foguista de patente superior, que acabou sendo apunhalado por seu subordinado.
(Nota do autor : a falta de vontade de Mizuno em escrever era tão grande que ele sequer relatou este episódio, como conteram o foguista; não descreveu o estado de saúde do apunhalado, etc)
16 de junho Terça-feira, céu límpido
17 de junho Quarta-feira, céu límpido
18 de junho Quinta-feira, céu límpido. Chegada ao porto de Santos às 9h. Atracação no cais às 17h. Total da distância navegada - 12.000 milhas marítimas.
19 de junho Sexta-feira, céu límpido. Os imigrantes acordaram às 3:30, se alimentaram às 5h e às 7h partiram rumo à Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo. Todos estavam tranquilos e não havia nenhum doente. Efetuou-se o procedimento de envio de cargas de fogos de artifício para o Rio de Janeiro e rumei para São Paulo às 16h30.
(Nota do autor : 1. é provável que, para economizar na hospedagem, a pernoite da chegada (18 junho) foi no navio, já atracado no cais do porto  2. "... envio de cargas de fogos de artifício para o Rio de Janeiro", alem dos imigrantes, Ryu Mizuno aproveitou para ganhar uns trocados trazendo esse material perigoso, explosivos a bordo)

Chegada a São Paulo às 18h30, hospedando-me no Grande Hotel. O intérprete oficial, Arajiro Miura, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e três especialistas em fogos de artifício estiveram junto.

Fomos recebidos pelo sr. Takeo Goto, da Casa Fujisaki, que nos acompanhou a partir de então. Telegrafei à noite para o ministro Uchida (da Embaixada do Japão no Rio de Janeiro). Telegrafei à Casa Matriz (em Tóquio).

20 de junho Sábado, céu límpido. Nesta data, o presidente do Estado visitou a Hospedaria dos Imigrantes. O ex-secretário Arruda Botelho, acompanhado de Bento Bueno, também visitou a hospedaria. Todos os imigrantes estiveram bem comportados. Nada houve que os desabonasse.
21 de junho Domingo, céu límpido. Visitei nesta data a Hospedaria dos Imigrantes, juntamente com a tripulação do navio, acompanhado de diretor de assuntos administrativos do navio (Kenzo Fuse) e o chefe da casa das máquinas (Tatsumi Iijima). Todos ficaram impressionados com as instalações da hospedaria.

22 de junho Segunda-feira, céu límpido. Visitei a Hospedaria dos Imigrantes. Vieram quatro marinheiros desertores da tripulação. Entreguei-os aos encarregados da hospedaria e telegrafei o fato. À noite, vieram o chefe da casa das máquinas, Sr. Iijima, e o sr. Ichiro Kanazawa (professor da Escola de Línguas Estrangeiras e intérprete do navio).

23 de junho Terça-feira, céu límpido . Estive na Hospedaria dos Imigrantes pela manhã. Entreguei os desertores para o tripulante que veio recebê-los. À tarde, audiência com o presidente do Estado.

Imigrantes descendo do Kasato Maru
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Mizuno encerra o diário sem nos relatar que fim foi dado ao foguista louco, que esfaqueou o colega. Também não relatou o estado de saúde do esfaqueado, ao final da viagem.


O Kokai Shinbum (“Jornal da Travessia” do Kasato Maru)


O relato da viagem do Kasato Maru poderia ter um fantástico registro. Entre os emigrantes a bordo, figurava Rokuro Koyama, um rapaz de 23 anos. Ele iniciou a publicação um pequeno jornal, a bordo do Kasato. Ele fazia tudo : entrevistava, ilustrava, redigia, etc. Não sei ainda se este trabalho tinha reprodução gráfica (tiragem, que poderia na época ser feito com mimeógrafo) ou se era um jornal mural (cópia única fixada em uma parede). Entretanto, na terceira edição, Koyama cometeu uma gafe. Ele fez chacota aos carecas a bordo, e isso causou um grande desconforto. Fez bullying. O representante da empresa de emigração, funcionário de Ryo Mizuno, Shuhei Uetsuka deu-lhe uma reprimenda. Aborrecido com a bronca, Koyama abandonou a brincadeira, e assim perdeu-se uma grande chance de existir uma pequeno e divertido registro da viagem.

Mas, Koyama saiu lucrando nesta história. Apesar da bronca, acabou fazendo amizade com Uetsuka. Este convidou-o para ser funcionário da empresa de emigração. Sem vocação para pegar a enxada, Koyama aceitou o convite, evitando assim o árduo trabalho na lavoura.

Mas, eu tenho a minha suspeita : sendo Uetsuka funcionário da empresa de emigração encarregada do Kasato Maru, Uetsuka deve ter ficado preocupado em Koyama passar a escrever sobre os problemas e falhas da travessia,  prejudicando a imagem da empresa. Se Koyama fosse um reacionário, um incendiário, poderia até causar desestabilização a bordo. Por isso, Uetsuka, por precaução, censurou-o, e para vigia-lo de perto fez amizade com ele.

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Colonia Cacatu - Antonina - Pr





Colonia Catatu (Kakatsu Shokuminchi)

Imigração Japonesa ao Brasi


A primeira colônia japonesa do Paraná



          Em 1916, o prefeito de Antonina, Heitor Soares Gomes (então com apenas 19 anos) solicitou ao consulado japonês em São Paulo que enviassem imigrantes à sua cidade. A intenção do prefeito era promover o cultivo do arroz na região. Foram então arregimentados alguns japoneses que estavam sem trabalho, vivendo na periferia de São Paulo em estado de desespero. Formou-se então um pequeno grupo, que levado a Antonina foi festivamente recebido pelo prefeito e população local, com direito a discursos e apresentação de desfile de banda. Takeshi Hassegawa, designado para comandar essa primeira leva de imigrantes por ser o único a falar português, foi apresentado à multidão como “consul do Japão”, com todas as honrarias. Este grupo instalou-se Quatingá, entre Antonina e Guaraqueçaba. Inicialmente, começaram a trabalhar com o cultivo da banana, em vez de arroz.
Assim deu-se o inicio da colônia Kakatsu, nome aportuguesado para “Cacatu”.

Litoral do Paraná

          Em 1917, Takashi Watanabe, morador do litoral, passou a viajar pelo interior de São Paulo e Minas Gerais a fim de convidar outros imigrantes japoneses a se estabelecerem no litoral paranaense. A essa altura, alguns imigrantes haviam juntado algumas economias, suficientes para a compra de um pequeno lote de terras. Watanabe alegava que ali no litoral paranaense a terra era muito barata e permitia o cultivo do arroz. Conseguiu arregimentar apenas duas famílias, atraídas pelo desejo de morar perto do mar, e também por motivos de amizade. Assim os irmãos Jingoro e Massaki Hara adquiriram 200 alqueires e Mokichi Yassumoto 50 alqueires de terras em Cacatu, Antonina. Foram eles os primeiros japoneses proprietários de terras no Paraná.
          Interessante observar que o fato dos japoneses, a esta época, terem adquirido terras no Brasil, estariam assim fixando suas raízes aqui no Brasil, indicando que o eles já não tinham mais o interesse de voltar ao Japão
      O trio JIngoro, Massaki e Yassumoto foi até São Paulo, e solicitaram à Companhia de Imigração Toyo que trouxessem do Japão algumas famílias para trabalharem nas terras adquiridas.

     O cultivo do arroz na colônia Cacatu não deu certo, as terras não eram apropriadas. Os japoneses passaram então a cultivar banana,  cana e produzir aguardente. Também, por falta de outro recurso, cortavam lenha e levavam a barco movido a remo até Antonina, ondem vendiam a Cia. Matarazzo. A ida era mais fácil devido a correnteza do rio, mas a volta era contra correnteza, o que dificultava bastante. Para facilitar a volta, os japoneses esperavam a hora da maré alta, pois nessa hora a correnteza do rio é menos forte.
Como não poderia ser diferente, o inicio da Colonia Cacatu não foi fácil, com os japoneses enfrentado a malária, a falta de assistência médica, o isolamento (dificuldade de comunicação), os meios de transportes precários, a língua portuguesa que eles não entendiam.
    Apesar de todas as dificuldades, a colônia prosperou, graças a produção de aguardente e banana,  e até mesmo conseguiram alguma produção de arroz. No final dos anos 30, já contavam com mais de 70 famílias japonesas morando no local.
Em 1926 foi inaugurada uma escola municipal, para alfabetizar as crianças e elas terem assim mais contato com a língua portuguesa.

O declínio da colônia Cacatu


A partir de 1937, com o inicio do Estado Novo, o governo Vargas impôs medidas restritivas aos imigrantes. Com o inicio da Segunda Guerra (1939), os imigrantes alemães, italianos e japoneses sofreram preconceito e perseguição. Para o japonês, havia um agravante : com sua fisionomia oriental, era facilmente identificado como “inimigo”.


      Em 25 de setembro de 1942 os japoneses, italianos e alemães receberam ordem do governo para abandonar as cidades litorâneas (Santos, São Vicente, Antonina, Morretes, Paranaguá etc), num prazo de 24 horas. Foi assim que muitas famílias embarcaram no trem ou em caminhões e foram obrigados a deixar Cacatu e Antonina. Vieram todos para Curitiba, onde se fixaram. Ao final da Segunda Guerra, poucos voltaram para Cacatu, esvaziou-se assim a primeira colônia japonesa do Paraná.


Memorial Centenário da Colonia Cacatu


Fontes : “Inventário Turístico Expandido – Atrativos Culturais e Naturais”, editado por Instituto A Mudança que Queremos; “Ayumi - Caminhos Percorridos”, escrito por Seto e Maria Helena Uyeda.